ME AJUDEM POR FAVOR! Nunca conheci quem tivesse levado porrada./Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo./E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,/Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,/Indesculpavelmente sujo,/Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,/Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,/Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,/Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,/Que tenho sofrido enxovalhos e calado,/Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;/Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,/Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,/Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,/Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado/Para fora da possibilidade do soco;/Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,/Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo./Toda a gente que eu conheço e que fala comigo/Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,/Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida.../Quem me dera ouvir de alguém a voz humana/Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;/Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!/Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam./Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?/Ó príncipes, meus irmãos,/Arre, estou farto de semideuses!/Onde é que há gente no mundo?/Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?/Poderão as mulheres não os terem amado,/Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!/E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,/Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?/Eu, que venho sido vil, literalmente vil,/Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. Álvaro de Campos Sobre Poema em linha reta, obra prestigiada do poeta português Fernando Pessoa, é correto afirmar: *
O poema não apresenta ironias em relação às convenções sociais da época.
A essência do poema é enaltecer pessoas falsas.
Álvaro de Campos não usa conceitos do mundo convencional para tecer suas reflexões.
O eu lírico coloca-se crítico em relação a si próprio.
O poema não apresenta ironias em relação às convenções sociais da época.
A essência do poema é enaltecer pessoas falsas.
Álvaro de Campos não usa conceitos do mundo convencional para tecer suas reflexões.
O eu lírico coloca-se crítico em relação a si próprio.
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